Braços abertos
Quando acolhemos alguém com alegria em geral, abrimos os braços para indicar a grande aceitação do outro. Como é importante sabermos abraçar-nos nessa perspectiva, dentro dessa nossa visão cultural. Há outros povos com outras maneiras de fazê-lo. Na parábola do filho pródigo, Jesus narra esse gesto fecundo do pai que acolhe o filho que o havia abandonado para ir errante por descaminho na vida (Cf. Lucas 15, 11-32). Ainda bem que Deus não abandona jamais seus filhos, mesmo os mais ingratos. Nele temos a certeza do abraço, até quando voltamos de nossas terríveis ingratidões! Essas se manifestam na nossa auto-suficiência, nas injustiças, nos comportamentos de expressão de paganismos, de colocação do ter acima do respeito à vida e à dignidade humana, no desrespeito aos valores fundamentais da convivência humana, do corpo, da família, da criança, dos negros, da mulher, dos idosos, dos empobrecidos...
Voltar é preciso para não perdermos nossa dignidade de imagem e semelhança do Criador. Afinal, não somos puros animais irracionais. Temos valores transcendentes à matéria. Nascemos para viver e viver eternamente! A reconciliação conosco nos leva à reconciliação com o outro e com Deus. Esse tempo de conversão, a Quaresma, nos coloca na necessidade de abraçarmos Aquele que sempre está de braços abertos, oferecendo-nos a vida de sentido a cada instante. Nele encontramos a razão de ser da vida, até dos sofrimentos e renúncias, para conseguirmos a vida de pleno êxito. Ela não está no ter acumulativo de bens, prazeres e poder, mas na razão de sermos pessoas que se realizam na sintonia de amor com o Criador e o semelhante.
Cristo nos coloca em sintonia com seu Pai e nos dá a possibilidade de reconciliação com Ele: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova... Tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo” (2 Coríntios 5, 17.18). O ser humano se sente realizado no equilíbrio ou sintonia harmoniosa consigo, com Deus, com o outro e a natureza. Esse relacionamento o faz perceber o valor de seu ser acima de qualquer coisa material e puramente sensível. O valor de sua pessoa é engrandecido com a sintonia de vida com o projeto do Criador. Assume, então, a missão fornecida por Ele: “Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós” (1 Coríntios 5, 20).
No amplexo ou abraço de Deus, encontramos o porquê da vida e seu apoio total para a realização e a construção de nossa existência com a certeza de sua destinação feliz. Sem Ele, não conseguimos o maior desejo de felicidade da vida.
Deixar-se abraçar por Deus nos dá a garantia plena de que caminhados pelo rumo certo. Mesmo que tivéssemos de ser tratados como empregados, à semelhança do filho pródigo, a vida já seria de bom tamanho. Na realidade, Deus nos trata realmente como filhos. Por isso, temos coragem de mudarmos de vida para encontrarmos o sentido da mesma na casa do Pai.
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